terça-feira, 26 de outubro de 2010

(Free) Hugs

Não solta não. Esquece seus braços enlaçando os meus e eu juro que não me importo. Eu sei, é sim um bocado estranho e confortável e ameaçador. Não pensa nisso não, só deixa o ponteiro do relógio dar mais algumas tantas mil voltas e você vai - dou um jeito de quebra-lo enquanto isso.

Já falei que amo esse seu cheirinho? É verdade sim. Olha, e se eu pedir a sua mão? Tá bom, não vou extrapolar. Mas vem cá, não afasta, deixa seu corpo colado com o meu assim que tá bom, quentinho. Não precisa falar nada, nunca precisou. Deixa eu sentir seu cheiro mais um pouquinho - já falei que amo? Tá bem, repito. Olha, e se eu quiser morar aqui, tem espaço? Só não podemos desajustar os corações - fácil, basta imitarmos todas as outras vezes e não descompassaremos nunca. Tá tudo certo assim, não importa se lá fora chove. Do lado de fora nada importa, baby.

Quer ser o meu abrigo? Vem cá. Sou o seu.

sábado, 23 de outubro de 2010

Contrariando Cazuza



"Não consigo mais aceitar relações pela metade. Em outras palavras, raspas e restos não me interessam."

E se a minha antipatia-a-superfícies te incomoda, por favor, fuja. Por pior que seja: sim, fuja. No imperativo assim mesmo. E mais, peço que seja logo: logo antes que eu te queira intenso demais.

Repugnância-aversão-ojeriza-nojo desses que não se permitem. Querem o raso, o tangível. Não se deixam ir no fundo. Sentir é bem mais que ter controle - é exatamente o contrário, meu amigo, é perdê-lo completamente. Então, repito: se doer, que o coração sangre; se amar, que os poros exalem paixão.

E se tivermos de acreditar, acreditemos como se fosse a primeira vez.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Hoje eu quero sair só



Aqui é lindo. Se ainda fôssemos - verbo intransitivo - teria te carregado comigo. Não posso, não podemos. Procuro motivos para deixarmos de sermos doces. Não existem. Se isso é bom? Talvez. Não sei até quando.

A propósito, estava por te dizer, mas preferi calar: torço pra que essa barreira não seja medo. Qualquer outra coisa, baby. Medo não. Dilacera qualquer um - e por mais dilacerados que estejamos, ainda te quero doce.

As coisas estão tranquilas esta manhã. Tudo muito lindo, verdade. Uma paz e uma liberdade imensurável, sabe? Feito os nossos dias de sol. As árvores da praça dariam belas fotografias. No banco em que estou há uns rabiscos, não dá pra ser precisa, mas são dois nomes - ilegíveis - e um coração como elo. Os autores não sabiam a encrenca que os esperavam, provavelmente. As mulheres caminham com calma - calma esta que já fez uma delas passar por mim umas-trucentas-vezes. O yorkshire desta outra é uma graça - e você diria que sim, é uma graça mesmo. Os ônibus estão lotados - horário de pico, acho que é isso. Você poderia estar em um deles; não, não está. Que bom. Por isso vim.

Tenho ainda algumas horas - duas ou três. Leio mais um pouco, acendo outro cigarro depois que este apagar. E por falar em cigarro, me permita uma comparação grotesca: assim como sentimentos, apagam. Deixam um gosto ruim, um gosto acre na boca. Depois passa. Não é mais ou menos assim que funciona?

Me deito no banco, admiro as nuvens, invento formatos, guardo na memória algum deles enquanto elas se desfazem.

Cá entre nós, o que destroi mesmo é essa consciência de que vai-passar. Bob Dylan entra em cena: It's all right man. Im just bleeding. Sim, tudo certo. Errado estaria se o desfecho não me incomodasse.

By the way, tem uma velhinha tão fofa sentada no banco ao lado. Lê um jornal, tem um semblante bom. Parece não ter medo de nada - se tem, felizmente não o identifiquei, há coisa mais bela que não ter medo de viver?; Ouvi, sem querer querendo, ela dizer: "Antigamente catapora era doença à toa. Hoje não." Tá vendo só, baby? Não tem jeito mesmo. Toda beleza tem seu lado nem-tão-belo-assim. Toda doçura tem seu fel.

Resisto, peço: não precisa ser doce, mas que não seja tão amargo também.

E que venha a vida. Pra você. Pra mim. Pra nós.

sábado, 16 de outubro de 2010

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Seeing red

"Se é patologia, invenção cristã-judaico-ocidental-capitalista, ou maya, ego, se é babaquice, piração, se mudou-através-dos-tempos, puro sexo, carência, medo da morte: não interessa. Tenho certeza que estive lá, naquele terreno. Ele existe."


Não sirvo pra essas bifurcações não, baby. Ou é ou não é.
E que fique claro. Sejamos claras, por favor.

domingo, 10 de outubro de 2010

O teatro piegas do amor



Não fosse as condições da realidade, montaríamos mais uma vez o nosso melhor cenário. Incorporaríamos personagens únicas, nos vestiríamos de amantes, ensaiaríamos o quão preciso fosse. E, claro, como de costume faríamos dos sentimentos a plateia.

Nossa peça.
Éramos ponte-de-hidrogênio. A ligação mais forte de dois corpos - ou almas?
A minha intimidade, a sua - era tudo uma coisa só. Singulares plurais ou plurais singulares.

Mal sabíamos que nos encerraríamos em breve. Ou sim, sabíamos...
Contamos histórias, rimos, relembramos o primeiro beijo, a primeira transa, desabafamos, debochamos, nos libertamos. Esses clichês da paixão. Confessamos o que era preciso e nos perdoamos ali mesmo. Não tínhamos medo, vergonha, ameaças; nada assim. Ainda que tivéssemos suposto o fim - penso agora no sarcasmo do destino -, só nos importava o presente.

Que-charmoso-é-cada-detalhezinho-do-seu-corpo, eu repetia no seu ouvido. Desde os dedos do pé às curvas de uma mulher em uma menina, verdade. Seus olhinhos brlhavam e o ego estufava. Você fazia o mesmo: com você tem sabor, tem saudade, tem cor - dizias.

Fomos eternas por um momento.
Nos encaixamos. Adormecemos. Amanheceu.

Que delícia acordar com o seu sorriso. "Os barulhinhos que você faz quando desperta", era assim que se referia ao meu espreguiçar. Falava que era lindo, até. Beijo-com-gosto-de-quem-acabou-de-acordar, olhares-apaixonados-cheios-de-remela.

Achávamos tudo uma delícia. Vejam só. Acho que o amor tem dessas coisas de extrair beleza do que um dia foi nojo.

Talvez a cortina ainda se abra. Vá saber.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Sobre nós e o resto do mundo


Tenho vontade de te dizer palavras bonitas - quaisquer que se arranjem a fim de literalizar essas coisas lindas que ando pensando sobre nós. Quase utópicas. Quase, está bem? É um tipo de utopia-às-avessas. E se esse termo não existe que surja agora. Explico: Pensamentos-coisas-vontades-desejos tão lindos que parecem de mentirinha - só parecem, não são. Daí a incoerência. Daí a utopia meio à la Caio F, então, porque "dane-se, comigo sempre foi tudo ao contrário".

Recuo, porém. Talvez tarde. Não sei enxergar a linha tênue entre o bonito e o ridículo quando o coração se torna parte do sujeito.
Sintetizo. Corto uma palavra ou outra, rabisco alguns sentimentos, espremo as emoções e tento não parecer piegas demais. Ainda assim as borboletas no estômago mandam lembranças - é que eu adoro quando você encosta o seu sorriso no meu.