domingo, 4 de setembro de 2011

Quem sabe isso quer dizer amor


É claro que o coração fica calejado, meu bem, a inocência de se entregar ou se moldar ao objeto amado se perde aos poucos. Há que endurecer-se. A vida nos bate na cara vezenquando e sussurra: amadurece, mulher. Chega de se doer.

É preciso muita ousadia para se colocar frente ao abismo mais uma vez. O medo do escuro que na infância nos perturbava agora é muito pouco perto do medo de amar que se alojou no peito feito uma bala perdida - já não sangra, mas ainda lateja.

Preguiça? Não é esse o nome. Cansaço, talvez, ao pensar na reconstrução do amor. Um novo. Demanda tanta, tanta coisa. Se surpreender com as qualidades ou mesmo fazer dos defeitos do outro algo amável não se faz da noite pro dia. Exige, mais que tempo, paciência. Mais uma vez, tempo. Então a gente fica tentado a desistir, quase conseguindo convencer o espírito que uma vida sem paixões também pode ser vida. Tudo pra evitar o retorno ao fundo do poço depois do fim - porque o fim é a única certeza que a gente tem e, não finja, você sabe. Se entregar é dar a cara a tapa e entrar num caminho que não se tem garantia de volta.

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Não-vá-amar-que-a-dor-vem-em-parcelas. Eu me avisei e de nada adiantou. Me convenci de todos os motivos que pudessem me afastar de outros abraços intermináveis beijos intensos e entregas inconsequentes.

Me dei conta quando eu já estava muito além, depois foi que percebi que o coração-já-fatigado encontrara novos motivos para sorrir.

Eu havia garantido a passagem de ida e não me amedrontava o caminho de volta. Não dessa vez. Não depois que minha boca, meio que por instinto, fitou seus olhos frouxos e balbuciou pela primeira vez um eu amo você, sorrindo logo depois que suas pupilas dilatadas encontraram as minhas e os lábios disseram que sim, mô, de verdade, eu também te amo. Muito.