segunda-feira, 20 de junho de 2011

Sobre chuvas e contos-de-fadas


Quase desisto das palavras quando seus olhos me mostram muito mais do que caberia num papel. Eis que elas insistem em rabiscar alguma baboseira numa folha d'uma tarde qualquer - ainda que vire rascunho depois.

É claro que eu pensei em culpar o acaso ou, sei lá, o Cara-lá-de-cima. Qualquer suposição ou coisa assim que explicasse você chegando num dia antecedente ao primeiro-de-abril dia-da-mentira. Aliás, você já havia chegado: final de fevereiro, quase março. O carnaval era logo. Fingi que nossas pupilas não dilataram quando se deu o encontro e, para o trabalho sair bem feito, responsabilizei o álcool pelas imagens do seu rosto que vieram à tona quando me deitei. A razão insistia em negar - era só invenção de um coração já fatigado de procuras. Caio F. se fez íntimo e me lembrou que não havia nada a ser esperado, nem desesperado. Seguiria assim convicta não fosse o emocional aumentando o tom de voz: é quando se desiste da procura que o inesperado nos atinge. Insisti ainda em acreditar que gostos idênticos, manias parecidas ou qualquer motivo análogo que pudesse nos aproximar fossem apenas coincidências. Afinal, elas acontecem. Mas o destino é irônico, meu bem. Sem mais desvios. Embora o niilismo tentasse tomar conta de mim o acaso já não podia se culpar pelo encontro que se deu ali, entre tanta gente chata e sem nenhuma graça, de um jeito não condizente aos inícios românticos dos filmes clichês.

Ainda que eu tentasse avisar ao o coração que dessa vez - por favor, ao menos dessa vez - ele deveria se calar. Berrou. Corações, dear, são deveras teimosos. E foi exatamente quando se deu o encaixe perfeito dos lábios e a sintonia dos corpos que tive de me convencer: a chuva não caíra à toa naquele 31 de março. Quer tenha sido São Pedro arrastando seus móveis ou mero fenômeno natural, as fugas se esgotaram: mais do que um pretexto para que eu lhe cedesse minha blusa e a usasse como desculpa para futuros encontros, o céu desabando sobre nós naquela tarde fora também uma breve introdução de uma história que estaria por vir. Um pouco complexa, confesso, mas que não deixa de ser doce: o que obviamente não presta sempre me interessou muito.

domingo, 5 de junho de 2011

Devaneios de uma alma encantada

Carrego comigo a ideia talvez equivocada que qualquer tipo de definição limita o que quer que seja. Restringe, entende? Feito um pássaro que repentinamente se vê sem asas. A partir do momento em que eu optasse por definir o que se passa aqui dentro, esse sentimento que agora me embriaga não poderia ser posteriormente algo senão aquilo já dito – e seria necessário a invenção de um novo vocabulário a cada novo beijo-olhar-ou-toque.


Afirmaram, por fim, que era amor. Não – de novo. Pedi a permissão de Martha Medeiros e concluí que não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor.