segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Retrato velho

Eu escreveria vários livros se as páginas suportassem tanta nostalgia.
Eu te diria sobre saudade se não fossem os fatos que a justificam.
E eu quase esperaria alguma coisa de você - de nós - se a Lei de Murphy não fosse tão óbvia.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Detalhes

Embora as tarefas tenham se acumulado para hoje, digo, deveria estar comendo desesperadamente os livros de física... Bem, eu simplesmente prefiro pensar em você. E admirar a Lua. E não necessariamente nessa ordem.

O nosso astro noturno me parecia próximo, diria até que palpável... Compreendes? E indubitavelmente aquele brilho era por você – sim, atendera aos meus pedidos.

Não se incomode se eu estiver personificando demasiadamente as coisas, mas tive a impressão de que durante aqueles segundos que passei observando-a houve alguma tentativa de aproximação da parte dela – digo a Lua – como se quisesse me dizer algo. E queria. Que sorte a minha.

Dei início, deixando que meus olhos exalassem a alegria de estar perto e, em contrapartida, certo desagrado por ter demorado tantos meses até brilhar por você – e só por você:

Perdoe-me a curiosidade - disse, tentando ser suave – mas por que só hoje?

Escute bem, menininha... – Ela introduziu sua justificativa, despejando sobre mim um mar de calmaria.

Nesse intervalo pude me perguntar se vocês também haviam conversado. Ou a “menininha” fosse pura coincidência. Whatever... Não me importava, fingi. Qualquer detalhe podia ser um erro. Deixei que continuasse:

É só que, vezenquando, na vida de vocês – humanos –, as coisas mais valiosas demandam algum tempo e, certamente, “brilham” apenas quando este é o certo.

Mantive-me intrigada; pensativa. Na verdade, paradoxalmente pensativa: eu não sabia o que pensar.

Ainda assim:

Não entendo o que queres dizer. Digo, seu brilho é sempre tão perceptível. Tão... Evidente.

Viver ultrapassa qualquer entendimento, já dizia Clarice. Mas você deveria ratificar o que dizes. Não faz muito tempo que percebestes meu brilho – me retrucou.

Caramba! Como era possível que afirmasse com tanta convicção? Ora, era a primeira vez que conversávamos de fato. No entanto, tive de concordar:

Você tem razão. Sabes? Se me permite alguma confissão. Er... Foi ela. Aliás, É ela. A minha menina, my little girl – que talvez tenha te feito tão notável.

Havia uma porção de sentimentos que me invadiam e eu sequer sabia defini-los.

Avante:

My little girl. É isto. Lembrei-me do termo exato. Mas é exatamente o que quero dizer. Meu brilho fora o mesmo por anos e anos. A diferença está em você, nos seus olhos.

Agora se tornara óbvio: já tiveram algum contato. Quem, senão você, contaria sobre o modo que nos chamávamos?

Contive a interrogação:

Pode ser que sim. A única certeza que tenho é muito vaga. Tudo muito inexplicável. E extremamente distante da efemeridade. Desculpe se estiver perturbando, mas posso lhe acrescentar e, por favor, não me julgue: Hoje, sabe-se lá porquê exatamente hoje – mas parei para reparar aqueles lábios e, Deus, como me pareciam doces. Eram sutis, sim? E imploravam por algum tipo de toque. Tive vontade de contorná-los com as pontas dos meus dedos. E não se assuste, embora até eu tenha me assustado, mas de repente se instalara em mim uma sensação estranha de quem um dia já o pôde fazer. Ciúmes. Não sei. Talvez fosse isso mesmo.

Não sei se fiz certo em dizer. De qualquer forma, era a Lua:

Não se preocupe. Mas entendo. Devo pontuar que o elo existente entre vocês vai muito além desse contato físico, se entendes o que quero dizer. Parece que vocês se conheciam de outra vida.

Ué! Disse para mim mesma - estava mais uma vez impressionada com o quanto ela sabia sobre nós.

Não quis demonstrar minha surpresa, ainda assim percebera minha exaltação e sem que eu nada tivesse dito senão lhe lançado olhares confusos, continuou:

Você não imagina. Nem ela. Mas o meu brilho ilumina inclusive coisas abstratas. Pobres de vocês, humanos, cuja percepção se restrinja ao “concreto”.

Aquilo me desapontou. Ela não podia ter assim tanta certeza –, tive de me expressar:

Agora preciso lhe contrariar. Como podes? Talvez ela, a minha menina – era estranho declarar estas coisas a ela, mas anyway – me permita o abstrato. Ainda muito além do abstrato, posso dizer.

Um pouco aliviada por conseguir explicar do que aqueles covões eram capazes, ouvi as sábias palavras:

Ei! Não creio que se considerem humanas. Tamanho elo não pode ser assim qualificado. Não diga a ninguém, talvez fiquem enfurecidos comigo: o brilho de vocês é um dos mais belos que já vi.

Não mais que o seu – não hesitei.

Não queira se comparar a tanto, sim? -Disse-me, com certo deboche e noção do quão valioso eram seus raios. Rimos juntas. E endossou:

Mas não queira que seja. Lembras-te do início? Os brilhos mais intensos são criados aos poucos.

Era tão bonito o modo como Ela era capaz de misturar clareza e sutileza. A Lua. Ah, A Lua.

Agora começo a compreender. Embora viver ainda ultrapasse qualquer entendimento. É como se fosse um diamante lapidado diariamente com extrema cautela. Não é?

Ela confirmou Perfeitamente. A diferença é que vocês são duas em um diariamente só. Digo, é muito difícil que se separem. Eles dificilmente se quebram.

As palavras não se fizeram mais necessárias.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

"Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem."
Que a naturalidade esteja bem distante de nós.

sábado, 14 de agosto de 2010

O plural vezenquando complica. Complica por um dia ter sido quem ofereceu a suavidade máxima aos dois. E, cá entre nós, dá um trabalho imenso ter que descomplicá-lo e retrocedê-lo ao singular.
Uso o 'retroceder' só mesmo para me convencer que o plural é o único fadado ao sucesso e desistir da ideia que o singular, numa ocasião muito rara, pode ser tão bonito quanto.

Sabe? Qualquer coisa que nos traga a capacidade de regenaração.