segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Á Louis Lane


"Hoje eu diria qualquer coisa se você telefonasse".

A carta que eu não te escrevi - nem escreverei - provavelmente começaria assim.

Nada de data, saudação ou endereços - não chegaria até você. Então hoje eu faria qualquer coisa se você viesse. Mesmo. Tudo o que não foi feito, tudo o que não foi dito. E todos estes tudo's recheiam-se do que deveria ter sido e não foi. E não foi porque talvez uma palavra não dita bastasse para que fosse ou para que não fosse ou para que fosse e não fosse simultâneamente ou para que enfim não houvesse mais se's - e tudo assim mesmo sem vírgulas nem pontos porque dá a impressão que a gente tá correndo tropeçamos nas palavras e voltamos a fim tentar entender e no fim nada é entendido porque vou dizendo e pensando e sentindo e todas essas coisas loucas que se resumem em só o incompreensível é infinito. Sabe que escrevendo isso - digo, neste momento, agora mesmo - me veio o pensamento de que as pausas talvez tenham sido a causa do nosso problema - não bem um problema. Não sei até que ponto eu deveria ter sido prudente, sabe, baby? Porque não fosse essa prudência não teríamos medo do toque profundo suceder o desencanto. Ah, sabia. Não era isso que você também pensava? Que se fôssemos além, se fizéssemos qualquer coisa que ultrapassasse o que éramos, qualquer coisa que nos tocasse mais fundo, que desse responsabilidade aos sentimentos ou nos obrigasse a nomeá-los - perderíamos tudo. Justamente porque no momento em que se confessa a precisão perde-se tudo, eu sei. Então se o toque se tornasse carinho o encostar suave das bocas se tornasse beijo o abraço nos fizesse amantes ou o entrelaçar dos dedos nos algemasse estaríamos perdidas. Não é isso que passava na sua cabeça? Eu sei que tínhamos medo, detesto admitir. Não deveríamos admitir, aliás, não deveríamos ter permitido que ele surgisse. E o medo depois - ou antes, não sei - do desacreditar é uma das coisas mais amargas do mundo, eu já lhe disse. Deveríamos ter sido corajosas e acreditarmos sempre. E falando em acreditar escrevo isso com a mesma esperança de quando escrevia a cartinha pro papai noel - isso é bom, não é? Vezenquando funcionava.

Mas veja bem, ainda é tempo. E prometo não me importar em ver o toque tornar-se carinho o encostar suave dos lábios tornar-se beijo o abraço nos fizer amantes ou o entrelaçar do dedo nos algemar. Me pintaria de azul e vestiria até uma cueca vermelha por cima para parecer incrível - e no meio de todas essas interrogações e condicionais a única certeza que tenho em mente é que Lois Lane é papel unico e exclusivamente seu. Vem?


De Clark Kent - ou o seu super-heroi.

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